quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Como ajudar nas tarefas domésticas ensinou Matemática ao meu filho


Tarefas domésticas e aprendizagem de  Matemática


Há uns anos atrás concebi, com uma amiga professora, uma atividade interdisciplinar em que os nossos alunos de um percurso curricular alternativo tinham de preparar um lanche, para o que deviam realizar diversas tarefas como fazer crepes, fazer uma infusão de ervas, etc. Do ponto de vista académico a coisa correu às mil maravilhas, os miúdos adoraram a experiência (especialmente a parte final, que consistiu em comer o que tinham preparado) e os objetivos que tínhamos traçado, quer para as duas disciplinas envolvidas, quer a nível do desenvolvimento de competências de caráter geral, foram atingidos. No entanto, ficámos surpreendidas com o desconhecimento que aqueles jovens, com idades entre os 13 e os 15 anos, tinham de procedimentos culinários básicos. A maior parte não era capaz de separar a clara da gema e havia quem nem soubesse partir um ovo cru! Muitos declaravam que nunca participavam nas tarefas domésticas, para o que muito contribuía o facto de haver apenas uma rapariga na turma. Confesso que, naquela altura, me senti chocada quer com a falta de autonomia quer com os estereótipos que nos foram revelados.    

Aqui em casa sempre tentámos que o Curiosity colaborasse em diversas tarefas (e existem algumas, como arrumar os brinquedos, que lhe estão mesmo atribuídas). Existem umas de que gosta, outras nem por isso, algumas dependem do dia e da boa vontade. Quando contactei pela primeira vez com o método Montessori fiquei surpreendida com o que os pequenotes conseguem fazer desde idades muito precoces, desde que lhes sejam dadas a oportunidade e as condições adequadas. As atividades de vida prática, que promovem o controlo motor e o desenvolvimento de competências necessárias para o seu quotidiano, fomentando a autonomia e a independência são, aliás, um dos grupos de exercícios centrais neste método.  

O que hoje quero partilhar convosco não é a minha opinião sobre a importância de os nossos filhos terem um papel ativo na organização doméstica mas o quanto isso foi importante para o desenvolvimento da numeracia do Curiosity. Surpreendidos? Não estejam, ao ajudarem em casa os pequenotes põem em prática uma série de noções matemáticas básicas. E é mesmo assim que se deve aprender Matemática, ligada ao quotidiano e com as mãos na massa (às vezes, literalmente). Vamos ver então alguns exemplos.


Conhecimento dos números

O Curiosity sempre teve uma apetência inata para números, letras e símbolos. E sempre gostou da máquina de lavar roupa, especialmente do programador. A minha máquina antiga tinha daquelas rodinhas que fazem Crrrr!, Crrrr!, o sonho de qualquer criança mexilhona! E quando eu já começava a ver o caso mal parado porque ia dar com ele frequentemente a brincar com o programador, decidi que, se não podia vencê-lo, mais valia juntar-me a ele e propus-lhe um acordo: podia ser ele a pôr a máquina da roupa a lavar a sério, desde que aprendesse a fazê-lo corretamente e não a usasse para brincar (o detergente ficava por minha conta, claro). Foi uma maravilha! Eu dizia qual o número do programa que íamos usar e o Curiosity programava a máquina. Depois dizia qual a temperatura correta, e ele tratava do assunto. Inicialmente, as indicações eram do tipo "Põe no quarenta, é um quatro e um zero" mas, passado pouco tempo, ele já sabia como eram o quarenta, o trinta, o sessenta e o noventa. Com a ajuda das Canções da Maria e de alguns jogos que lhe preparei, em pouco tempo aprendeu as dezenas. E ficou um profissional a tratar da roupa (também é ele que a tira do alguidar e a põe na máquina)!

Passar das dezenas para as centenas foi mais difícil mas um dos recursos que contribuiu para essa aprendizagem foi a balança da cozinha. A balança digital é um aliado poderoso pois podemos pedir ajuda para saber quando já temos a quantidade suficiente de um determinado ingrediente. "Este bolo leva 200 g de farinha. Avisa-me quando chegarmos ao duzentos, é um dois, um zero e outro zero." Acreditem, após algumas repetições eles já sabem como é o duzentos.


Contagem

Muitas vezes ouvimos dizer que uma criança já sabe contar até dez quando, na verdade, o que ela fez foi memorizar os números de um a dez. Contar implica muito mais do que saber os números, é preciso ser capaz de fazer corresponder o número à quantidade, o que só se consegue fazer contando objetos várias vezes e não é tão fácil como parece. Mas não tem de ser nada rebuscado, podemos contar quase tudo: os degraus da escada, os carros que passam na rua, quantos carros brancos estão estacionados... O Curiosity contava (e conta) muito enquanto me ajudava nas tarefas domésticas. Por exemplo, no supermercado é ele que vai buscar o pão, eu peço-lhe um determinado número de pães de cada tipo e ele tira para o saco (o que também é bom para a motricidade pois não é nada fácil manusear os apetrechos com que, nalguns supermercados, se tira o pão). Fazer bolos é um exercício maravilhoso de Matemática em que é necessário medir, reconhecer números e contar (três canecas de farinha, quatro ovos, uma caneca de leite,...). E existe ainda a minha arma secreta, estender a roupa!

Se não há criança que não goste da máquina de lavar roupa, também não há nenhuma que não aprecie molas. Brincar com molas pode ser um enorme exercício de aprendizagem: podemos classificá-las por cores, fazer construções (o que é ótimo para desenvolver os músculos usados no movimento de pinça e tão importante para, mais tarde, ser capaz de escrever) e, claro, estender a roupa. Atenção, não estou a falar de deixar os miúdos pendurarem-se na janela mas de pedir a sua colaboração para nos darem o número de molas de que precisamos. Qualquer coisa do género "Agora vou precisar de quatro molas.", "Dá-me mais três, por favor.".


Geometria

Usar as tarefas domésticas para aprender Geometria pode ser um bocadinho menos óbvio mas também pode ser divertido. O Curiosity adora fazer biscoitos, por que não fazer biscoitos com a forma de polígonos? Ou nomear os sólidos geométricos presentes em vários objetos (um copo pode ser um cilindro, uma caixa um paralelepípedo ou um cubo, uma bola é uma esfera,...). No outro dia, o Curiosity descreveu o almoço como massa com paralelepípedos, referindo-se ao bacon da Carbonara.


É claro que, à medida que vão crescendo, as crianças podem realizar cada vez mais tarefas domésticas e também tarefas mais complexas. E novas tarefas podem significar novas aprendizagens matemáticas.

Nas vossas casas, os mais novos também colaboram? Com ou sem Matemática?










terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Carimbos de embalagens de esferovite

Carimbos feitos de embalagens de esferovite


Tenho uma mania que talvez venha do facto de ser professora, ainda para mais de Físico-Química: sempre que possível, gosto de reutilizar/reciclar coisas que iriam para o lixo nas atividades que faço com o Curiosity. Aposto que já tinham percebido! Dificilmente conseguimos ensinar algo em que não acreditemos, e eu acredito que todos temos a obrigação de cuidar melhor do nosso planeta do que aquilo que temos feito até agora. Numa sociedade em que é difícil não produzir quantidades enormes de lixo, ao menos que ele possa voltar a ser útil.

Mesmo tentando reduzir a quantidade de embalagens associadas às compras aqui de casa, há sempre muitas! Sacos, frascos, pacotes e até aqueles tabuleirinhos em esferovite em que são acondicionados alguns produtos alimentares e que, embora sendo evitados, lá acabam por aparecer. Por vezes uso-os para colocar as tintas, como se fossem uma paleta de pintor, mas estes tiveram um fim diferente: foram transformados em carimbos. Querem saber como?



Material:

- Tabuleiros de esferovite;
- tesoura; 
- guaches;
- pincel ou rolo de esponja;
- papel;
- pano;
- lápis ou lapiseira.



Carimbos feitos de embalagens de esferovite


1. Comece por cortar a parte plana do tabuleiro usando uma tesoura e dê-lhe a dimensão desejada.

2. Peça à criança para fazer um desenho simples (quanto mais pormenores o desenho tiver, maior será a dificuldade de fazer o carimbo).

3. Coloque o papel em cima do esferovite e contorne o desenho com o lápis.

4. Volte a passar por cima do desenho que copiou para a placa de esferovite. Os sulcos devem ficar bem marcados.

5. Depois de escolhida a cor para a impressão, coloca-se um pouco de guache (não diluir) na placa e espalha-se com a ajuda do pincel ou do rolo, de modo a obter uma camada fina e uniforme de tinta em toda a placa.

6. Coloque o papel onde vão imprimir sobre a placa de esferovite com tinta e pressione (pode ajudar com um pano).

7. Retire o papel com cuidado e deixe a tinta secar.


Está pronta a impressão! O carimbo (ou gravura) pode ser usado as vezes que quisermos. Este é um método fácil, barato e amigo do ambiente que pode ser usado pelos nossos pequenotes para fazer postais, quadros ou o que a imaginação ditar. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Jogo 24 - A caminho de Belém

Jogo de NatalChegámos ao último jogo sobre o Natal! Era minha intenção publicá-lo na véspera de Natal mas, com tudo o que houve para fazer, foi impossível. Pareceu-me então adequado partilhá-lo no Dia de Reis, tanto mais que é sexta feira, um dia ótimo para jogar em família. O Curiosity jogou este "A caminho de Belém" no dia 24 de dezembro e divertimo-nos bastante. É uma versão simplificada e adaptada ao Natal dos clássicos Jogo da Glória ou Jogo do Ganso, para a qual precisam de um dado e de peões. Depois de imprimir o tabuleiro do jogo (que pode ser colado em cartão ou plastificado a quente, para aumentar a resistência) e a lista das "casas especiais", podem começar a jogar.

Para além de fomentar a diversão, este tipo de jogos promove o respeito pelas regras e treina a contagem, o subitizing e a compreensão de instruções. O facto de ter um número relativamente pequeno de casas, instruções muito simples e regras básicas permite que seja jogado por crianças pequenas, desde que um dos jogadores saiba ler.

O ficheiro do jogo pode ser acedido aqui.

Espero que estes "24 Jogos de Natal" tenham proporcionado momentos de aprendizagem divertida aos vossos pequenotes. 




Jogo 23 - Dado do movimento

Natal - Dado do movimento

O penúltimo jogo desta série de 24 é bastante diferente dos anteriores. Desta vez a intenção é que toda a gente, especialmente os mais pequenos, se mexa. E, para o conseguir, vamos usar um dado muito especial.

Temos de começar por construir o dado que hoje partilhamos (é só imprimir em cartolina, cortar pelo contorno, dobrar pelas linhas e colar de modo a formar um cubo). Para jogar lança-se o dado e executa-se a ação descrita na face que ficou voltada para cima. Não existe limte para o número de jogadores nem para as variantes que podemos introduzir. Pode ser o jogador que lança o dado a realizar a ação, dando depois a vez ao jogador seguinte; pode ser um jogador a lançar o dado e todos têm de realizar a mesma ação; podemos adicionar um dado de pintas, que nos diz quantas vezes os jogadores têm de realizar o movimento descrito. O importante é que todos participem e se divirtam.

Os benefícios deste jogo são vários: desde logo, desenvolver a motricidade grossa e pôr a pequenada a fazer exercício físico; pode ser jogado fora de casa, ao ar livre; ajuda os mais novos e, especialmente, crianças com dificuldades de auto-regulação (como é o caso de crianças com hiperatividade e défice de atenção) a desenvolverem o controle do próprio corpo; promove a interação não competitiva com os pares.

Agora só falta construir o dado e jogar. Pode aceder ao ficheiro aqui.

Espero que se divirtam.